Ao conversar com um grande amigo que ainda trabalha na USP, fiquei sabendo que os moradores do alojamento faziam um protesto objetivando a continuidade
Do processo de seleção ao alojamento pelos próprios moradores e não via o órgão oficial da USP,a COSEAS.
Esta discussão é extremamente antiga, e pelo visto se repete 26 anos depois...
Por que 26 anos depois, ainda acredito que o processo seletivo feitos pelos próprios moradores é melhor do que o realizado pelo órgão da USP:
O processo é íntegro (apesar de quem não morar no alojamento acreditar que não seja, pois este preconceito sempre existiu e infelizmente existira).
Os moradores conhecem a situação sócio econômica de cada um, pois convivem diariamente com a falta de recursos e sabem nas entrevistas comparar as diversas situações. Quem necessita realmente, se percebe rapidamente, ficam alojados provisoriamente ate que se tenha o processo seletivo e nestes dias de convivência se conhece a real situação de cada um..., ou seja um Big-Brother as avessas. Eram apenas 68 vagas, mas nunca houve uma reclamação de que alguém havia sido excluído indevidamente.
O processo seletivo deve ser feito anualmente, com documentações oficiais sócio-economicas alem da entrevista com o grupo de seleção (como sempre foi feito, desde que existiu o alojamento) e para 100% dos moradores, pois a todo instante a situação sócio-economica se altera, ou seja, devem ficar sempre os mais necessitados realmente. Na pratica, o morador é avaliado a todo instante, durante todo o ano e não apenas durante a entrevista, pois em um próximo ano o seu comportamento sócio econômico, poderia diferir da documentação apresentada, ou seja, diz que é muito necessitado, mas suas vestimentas e hábitos não confirmam sua condição sócio-economica informada, podendo então ser substituído por um outro aluno mais necessitado no próximo ano.
Na minha época a situação era tão critica, que alguns colegas apenas se alimentavam com pão e marmitas cedidas pelo restaurante central (resto do restaurante de sábado). Podem não acreditar, mas a grande maioria dos moradores só se alimentavam no almoço e no jantar (devido a bolsa da COSEAS) e eu era um deles, nunca existiu café da manha, café da tarde ou café da noite..., água gelada era a que se bebia no bebedouro da Biblioteca Central (cuja entrada antiga era atrás do alojamento).
Justiça social: nada mais justo que os próprios necessitados definam quem são realmente os mais necessitados. Pessoas externas por mais boa intenção que tenham, dificilmente conseguirão ter uma precisão e senso de justiça, pois não convivem, não conhecem a realidade, não sentem na pele a dificuldade alheia, “ só sabe o que é fome, quem já passou fome “.
Aprendizado e formação universitária: um bom profissional se constitui não apenas devido a sua bagagem técnica (obtida após horas e horas de estudos e aprovação em todas as disciplinas ) mas também através do senso crítico, opinando, debatendo, negociando, defendendo idéias, reconhecendo a sociedade em sua volta e se posicionando, errando, acertando.
Como isto era obtida na USP São Carlos ? Via manifestações no seu centro Acadêmico, o CAASO (Colégio, Cursinho, Grafica, Biblioteca,Cinema, cursos, todos geridos pelos alunos), morar em uma República de 68 pessoas ( alojamento), com todos os tipos de personalidades, atividade extra-curriculares, etc, etc. Tudo isto também é formação universitária, mas não existe um “ departamento”, pois são “ disciplinas optativas da vida”, para quem quer se diferenciar dos demais.
Isto sempre foi o grande diferencial da USP São Carlos.
Alunos devem ser incentivados a participarem em atividades extra-curriculares ( e fazer seleção para vagas de moradia, nada mais é do que mais uma outra atividade).
Não deixem que a USP São Carlos se transforme apenas em mais uma outra universidade qualquer...
Aos que não participam de nada..., lembrem-se, somente boas notas nem sempre significam um bom futuro.
Acreditem, grande parte dos “ alunos mais estranhos” da minha época, foram os que mais se destacaram na vida profissional.
Lembrem-se que grandes nomes brasileiros, já se destacavam na sua época durante suas fases universitárias, justamente por participarem e defenderem novas idéias.
Gratos pela oportunidade
Roberto H. Moriya. Ex-morador do alojamento e ex-aluno eng. Produção, formatura 1987